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Chove a chuva e deixa a casa cheia de cheiro da água que encontra a terra, o asfalto, as poças que se enchem e transbordam. Chove a chuva como os olhos também se enchem e transbordam de choro. Choro que pinga, goteja e escorre como a água da chuva cai com destino e direção. Chove a chuva e molha o chão, os chinelos, os cachorros que brincam na grama do jardim. Chove a chuva e chama você pra mim.
Chove a chuva enquanto a chaleira chia pra fazer um chá de camomila e deixar a vida mais tranquila. Chove a chuva na chácara ou no chalé, enquanto alguém sozinho prepara uma xícara de café no desejo de um cafuné. Chove a chuva e chama chocolate quente na cama da gente. Chove a chuva e molha a nossa roupa, o nosso cabelo e o nosso pé. Chove a chuva em Xangai, no Chipre, na Chechenia ou em qualquer outro lugar onde a gente pudesse chegar.
Chove a chuva dentro e fora, chove em todo lugar. A chuva chove é pra molhar. Deixa essa chuva chover e lavar as calçadas, os quintais, as avenidas, as tristezas e as incertezas dessa vida. Deixa essa chuva chover e amolecer as palavras duras e os corações à procura de cura. Deixa o olho chorar até a lágrima cessar, a menina dos olhos já cansou de desaguar. Deixa essa chuva chover e molhar eu e você. Chove, chuva bonita, porque a gente acredita que você vem pra limpar. Você não é tempestade, e ainda que fosse, uma hora vai passar.
Deixa o céu te abraçar e nos encher os pulmões com o mesmo ar. Deixa o céu chorar por nós dois até o sol chegar. Sol que seca, aquece e vai fazer a gente brilhar, bem no alto desse céu que chora, e não para de pingar. Quando chover, deixa molhar. A gente toma banho de chuva, e espera essa chuva passar.