O dia já clareou e parece que o ontem passou. Vejo um céu esbranquiçado querendo ficar azul e um sol chegando tímido e bem devagarinho, por entre nuvens macias que eu queria poder tocar e te dar um pedaço, deixando o aroma dessa chuva pra trás. Chuva que vem pra limpar, lavar, levar. As gotas de água delicadamente depositadas em cima de cada folha já amarelada pelo verão quente refletem luz e brilham feito purpurina, avisando que, se tudo der certo, logo logo elas vão secar com o vento que bate e leva pra longe qualquer tédio, como um remédio pra dor.
Aproveito então esse espetáculo de pequenos pontos de brilho que acontece do lado de fora da minha janela e sinto o cheiro de terra molhada e cimento secando – das minhas sensações favoritas na vida. Não só as cores, mas a gente também fica mais forte, e as flores se aprumam de novo, como moças perfumando o colo e ajeitando o decote do vestido. Tudo isso pra ver o sol raiar seus raios de luz furta-cor e calor, e invadir as casas e cortinas, anunciando que o amanhã chegou e que nasce um dia novo dentro da gente todo dia.
A gente não precisa ver a vida da janela, se incomodar com o calor ou se abrigar do sol. A gente não precisa ter medo de chuva, deixa molhar. Abre essas portas e deixa toda a luz entrar por esses olhos que como duas varandas recebem a luz solar. Pisa na grama, espanta o drama, levanta da cama. É tanta vida lá fora que o dia já clareou. Estamos aqui, no hoje e no agora. O dia amanhece e a gente acontece: com os pés no mundo, com o mundo aos nossos pés. Ouço barulho de felicidade na cidade sem limite de decibéis. Um novo dia já raiou. Bom dia, meu amor.